-Publicidade -

    A Escola de Frankfurt e a Revolução Cultural
    A

    Em termos gerais, podemos distinguir dois tipos de revolução:

    – Revolução política: é a que visa obter o poder mediante o uso de violência e terror. Nesta classe se incluem a Revolução Francesa (1789-93) e a Revolução Russa (1917).

    – Revolução cultural: nesta se demolem as bases da civilização (a cultura, os costumes, a religião, a moral, a hierarquia de valores, etc.) dentro da nação que se deseja subjugar. É uma ação de longo prazo conduzida sem violência física, segundo a fórmula: “As formas modernas de subversão são suaves”. [1]  Leia mais

     

    Por que é importante estudar o processo de revolução cultural, geralmente menos conhecido que o da revolução política? Porque ele tem se mostrado particularmente eficiente em nações católicas. Exemplo disso é a Polônia, país que por cinqüenta anos sofreu com o comunismo e a despeito dele preservou sua religião e moral. Entretanto, submetida a poucos anos de revolução cultural vinda do Ocidente, a moral e os costumes poloneses, sob a influência de tendências anticristãs, adaptaram-se aos padrões ocidentais. Atualmente, o país vivencia a ameaça de uma rápida descristianização. [2]

    A revolução cultural não é um fenômeno novo. Joseph de Maistre, já no começo do século XIX, a caracterizava da seguinte maneira:

    Até os dias de hoje, aniquilavam-se as nações pela conquista, ou seja, pela invasão. Mas surge agora uma questão importante: pode uma nação morrer em seu próprio território, sem ser colonizada ou invadida, mas unicamente através da corrupção, ao permitir a deterioração de seus princípios fundamentais? [3]

    A sistematização da revolução cultural se iniciou sobretudo nos anos 1920, a partir de uma iniciativa de Lênin e da criação da chamada Escola de Frankfurt.

    Propomo-nos aqui a oferecer algumas informações básicas sobre essa iniciativa e essa escola, e demonstrar como ambas contribuíram de maneira significativa para o atual triunfo da contracultura.

    1. As intuições de Marx e dos maçons

    Em 1843, cinco anos antes da publicação do Manifesto Comunista, Marx escrevera a um amigo:

    Eis o que devemos almejar: a crítica implacável de tudo quanto existe.

    Digo implacável em dois sentidos: a crítica não deve temer suas próprias conclusões, nem o conflito com os poderes a que se dirige.

    “A crítica implacável de tudo quanto existe”: com isso implica ele não só a política, a religião, o direito e a família, mas todos os elementos da Cultura Ocidental.

    Essas idéias de Marx se assemelham às encontradas em textos maçônicos da mesma época. Citemos dois textos de membros da Alta Venda italiana: [4]

    Para propagar a luz, é conveniente e útil dar impulso a tudo aquilo que proporciona a mudança. O essencial é isolar o homem de sua família, fazê-lo perder sua moral. [Piccolo Tigre [5] (1822)[6]]

    O catolicismo, assim como a monarquia, não teme punhais afiados. Contudo, a corrupção pode levá-lo ao colapso. Não deixemos jamais de corrompê-lo.

    Pervertei os corações e não tereis mais católicos. [Vindice [7] (1838)][8]

    Após o Manifesto Comunista de 1848, o marxismo se concentrou em agir nos campos político e econômico. Somente nos anos 1920 os marxistas iriam resgatar metodicamente as idéias do Marx de 1843.

    1. Os fracassos do comunismo na década de 1920 e o projeto da Revolução Cultural

    Após a Revolução de Outubro, Lênin pretendia exportar a revolução para a Europa Central e Ocidental, a fim de salvá-la na Rússia. A Revolução Bolchevique só não fracassou porque recebera ajuda financeira dos Estados Unidos.

    Em 1919, na Hungria, Bela Kun só conseguiu sustentar o regime comunista por 133 dias e a revolução fracassou. Ela também foi um fiasco na Alemanha quando, no ano de 1919, a rebelião da Liga Espartaquista (fundada em 1916) foi vigorosamente reprimida. O mesmo aconteceu na Itália, onde o ex-socialista Mussolini esmagou os partidos e as uniões comunistas.

    Lições tiradas dos fracassos na Europa Central e na Itália

    Esses fracassos levaram os marxistas a reflexões metódicas. Eles chegaram às seguintes conclusões:

    1. Marx previra que a industrialização tornaria insuportável as condições de vida das classes operárias e acarretaria a eliminação das classes baixa e média. Esses prognósticos se mostraram equivocados: o crescimento da produção aumentou a qualidade de vida em todas as classes;
    2. O proletariado – a tão alardeada classe dos trabalhadores – jamais poderia servir de instrumento para derrubar o Ocidente industrializado e veicular a revolução;
    3. Era preciso abandonar a idéia pouco realista de um ataque frontal à burguesia e ao capitalismo nos países desenvolvidos do Ocidente;
    4. O Ocidente só poderia ser derrubado após a destruição de suas forças vitais, mediante a traição dos intelectuais;
    5. Seria preciso recuperar as intuições de Marx anteriores ao Manifesto de 1848 e colocar em prática uma revolução cultural marxista (em outras palavras, explorar a fundo todas as formas de dialética).

    No final de 1922 realiza-se em Moscou uma reunião no Instituto Marx-Engels

    Para dar efeitos concretos às reflexões anteriores, no final de 1922 organiza-se em Moscou uma reunião no Instituto Marx-Engels, sob as ordens de Lênin. Esse encontro especificou o conceito de revolução cultural e delineou as bases de sua organização. “Esse encontro foi talvez mais prejudicial à Civilização Ocidental do que a própria Revolução Bolchevique,” escreve Ralph de Toledano.[9] Estiveram presentes à reunião: Karl Radek, Willi Munzenberg, Georg Lukacs e Felix Dzherzhinsky – o representante de Lênin,[10] cuja presença pretendia garantir que a estratégia desenvolvida se integrasse na rede soviética de assassinato e subversão.

    Consideremos os dois membros mais influentes que participaram da reunião: Willi Munzenberg e Georg Lukacs:

    Willi Munzenberg: alemão, desempenhou um papel importante na criação do Comintern [11]; ele foi um líder comunista do período entre guerras. Trouxe senso de organização ao projeto de revolução cultural. Mais tarde Stálin o mandaria matar[12].

    Georg Lukacs (1885-1971): era proveniente de uma rica família judaica da Hungria; rebelara-se contra os pais, que o haviam apoiado durante toda a sua vida. Durante o governo comunista de Bela Kun, foi nomeado Comissário do Povo para a Educação e Cultura.

    Bom teórico marxista, ele desenvolveu o tema “Eros e Revolução”, ou seja, usar o instinto sexual como instrumento de destruição civilizacional. Desempenhou um papel decisivo no projeto da revolução cultural: trouxe novas idéias, contribuiu com sua vasta cultura e se aproveitou do bom relacionamento que mantinha com artistas e intelectuais alemães.

    As idéias de Willi Muzenberg e Georg Lukacs

    O poder dos pequenos grupos

    Munzenberg e Lukacs sabiam que movimentos de massa não conduzem sociedades e civilizações.

    A Revolução Bolchevique não se fez com demonstrações de massa, mas sim com a desintegração do czarismo, a corrupção da classe reinante e a perda da confiança dessa classe em si mesma e em sua vontade de manter-se no poder.

    O jornal teórico de Lênin, o Iskra, muito útil na derrubada do regime czarista, tinha uma tiragem de 3 mil exemplares, toda ela destinada a intelectuais. [13]

    Uma revolução cultural para desintegrar o Ocidente

    Se triunfasse em trazer a desintegração, a corrupção e a corrosão ao Ocidente, a revolução cultural, sozinha, poderia produzir as condições apropriadas para uma revolução comunista (…)

    O obstáculo era a própria Civilização Ocidental e a cultura que havia engendrado (…)

    A Civilização Ocidental se constituía de muitas fortalezas: a moral oriunda da religião, a família, a estima do passado como guia do futuro, a restrição dos baixos instintos humanos e uma organização social e política que garantia a liberdade individual. Entre os obstáculos que oferecia o Ocidente, os maiores eram a crença num Deus imanente e a instituição da família.

    Era essa a mensagem de Marx em 1843 – anterior às suas aventuras em estudos pseudocientíficos sobre história da economia. Naquela época, suas atividades limitavam-se à crítica implacável de toda a sociedade, mas em particular à crítica da religião, da ciência e da família. Ele acreditava que a partir do momento em que o homem ocidental se “libertasse” da sua humanidade e fincasse raízes “na lama”, tornar-se-ia possível o nascimento de uma nova sociedade politicamente correta. [14]

    Como isso se poderia realizar? O primeiro passo fundamental seria influenciar os intelectuais:

    Devemos organizar os intelectuais e utilizá-los para apodrecer o Ocidente. Somente então, depois de terem corrompido todos os valores ocidentais, poderemos impor a ditadura do proletariado. [15]

    O segundo passo fundamental seria adaptar as idéias de Freud às de Marx:

    A corrupção dos conceitos relativos aos instintos sexuais do homem começara com Freud (…) O sexo, o campo mais explosivo da psique humana, deveria ser desatrelado (…)

    A fusão de neofreudismo com o neomarxismo deveria destruir as defesas do frágil sistema imunológico da Civilização Ocidental. [16]

    3. A fase alemã da Escola de Frankfurt (1923-32)

    Para dar substância ao programa, em 1923 fundou-se em Frankfurt “um instituto pelo marxismo”, que logo adotou um nome menos chamativo: “Instituto de Pesquisa Social”. [17]

    A importância de Frankfurt

    Não escolheram Frankfurt por acaso. Desde a Idade Média a cidade era um dos centros de influência mais importantes da Alemanha.

    Frankfurt é a cidade natal de diversas dinastias financeiras (famílias Rothschild, Shiff, Speyer, Stern, etc).

    No século XVIII, Frankfurt foi o centro dos Illuminati da Baviera, ala da maçonaria que desempenhou papel crucial na preparação da Revolução Francesa.

    Foi próximo a Frankfurt que, em 1786, uma assembléia maçônica decidiu sobre a morte de Luís XVI e do rei da Suécia.

    No século XX,

    Frankfurt era a cidade alemã com a maior porcentagem de judeus; a comunidade judaica que ali residia era a mais conhecida e, depois de Berlim, a segunda mais numerosa (…) uma cidade em que era muito alto o número de simpatizantes do socialismo e do comunismo na classe média. [18]

    Compreende-se então porque um instituto destinado a arquitetar os planos básicos da revolução cultural se estabelecesse ali.

    O Instituto de Pesquisa Social

    De 1923 a 1930, o instituto foi dirigido por Carl Grünberg, intelectual de origem austríaca e convicções marxistas, conhecido e respeitado nos meios acadêmicos.

    De 1930 a 1958, dirigiu-o Max Horkheimer, marxista doutor em filosofia.

    Georg Lukacs teorizou boa parte das idéias fundamentais do Instituto, mas pouco tempo depois o abandonou. Contudo, “não obstante as desavenças que levaram ao seu afastamento (e foram graves) o Instituto e Lukacs tratavam das mesmas questões, baseando-se numa tradição comum”. [19]

    Outros membros importantes do Instituto: Erich Fromm (1900-1980); Theodor Adorno (1903-1969), autor da obra The Authoritarian Personality, sobre a qual trataremos adiante; Karl Korsch (1886-1961); Wilhem Reich (1897-1957); Friedrich Pollock (1894 – 1970); Walter Benjamin (1892-1940); e Herbert Marcuse (1898-1979), aceito como membro do instituto em 1932.

    É importante salientar que a chegada de Herbert Marcuse fortaleceu o grupo daqueles que, dentro do Instituto, haviam adotado “uma concepção mais dialética e menos mecânica do marxismo”.[20] Isso significa que em vez da idéia do monilitismo stalinista, os marxistas do Instituto defenderiam idéias mais semelhantes às de Trotsky (difundir a revolução como um vírus).

    4. A Escola de Frankfurt nos EUA (1933-1950), e seus campos de atuação

    Em 30 de janeiro de 1933 Hitler se torna chanceler da Alemanha. Ao mesmo tempo, o Instituto fecha as portas em Frankfurt e reorganiza-se nos EUA. Abaixo apresentamos uma descrição de Jeffrey Steinberg, retirada de seu estudo (não publicado) Draft Report on Manchurian Children[21], que trata da instalação do Instituto nos Estados Unidos e de seus diversos campos de atuação entre os anos 1932-1950 (os subtítulos são de nossa autoria):

    O acolhimento pelas universidades americanas

    No começo dos anos 1930, a Escola de Frankfurt abandona a Alemanha pré-Hitler, onde já havia desempenhado um papel considerável na decadência cultural que ajudara a promover os nazistas e, após breve estada na Suíça, instala-se nos EUA. Graças às universidades de Columbia e Princeton, a London School of Economics, à Sociedade Fabiana da Inglaterra, a John Dewey (um perito em subversão psicológica), a Rockerfeller Foundation, entre outras, algumas figuras eminentes da Escola de Frankfurt ocuparam cargos importantes nas principais universidades americanas. A Universidade de Columbia tornou-se a “casa americana” oficial da Escola de Frankfurt.

    A utilização de formas degeneradas de música

    Na Universidade de Princeton, Paul Lazarsfeld, membro da Escola, encabeçou o Radio Research Project, trabalho pioneiro na área de engenharia social, financiado pela Rockerfeller Foundation e pelo exército americano. Theodor Adorno, um dos principais membros da Escola de Frankfurt, foi eleito chefe do departamento de estudos musicais. Ali, sob a direção de Lazarsfeld, ele escreveu (entre 1930 e 1940) acerca da difusão massiva da música atonal como arma de destruição da sociedade. Numa obra seminal, Philosophy of Modern Music (Filosofia da Nova Música), Adorno defende o uso de formais musicais degeneradas como meio de desenvolver doenças mentais – entre elas a necrofilia – em grande escala. Em outra obra afirma ele que seria possível deixar os Estados Unidos “de joelhos”, ao promover a cultura do pessimismo, desespero e autodesprezo através do rádio e da televisão.

    A luta contra o “preconceito”

    No começo da década de 1940, o American Jewish Committee contrata Horkheimer, Adorno e a maioria dos refugiados da Escola de Frankfurt. Ao longo de uma década, eles dirigem os grupos de “Estudos sobre o Preconceito”, que produzem cinco obras importantes. A mais famosa delas, The Authoritarian Personality,[22] rejeitava a moralidade americana do pós-guerra, argumentando que, porque ainda acreditava em Deus e venerava a pátria e a família, a nação americana estava prestes a se tornar um regime fascista e autoritário. Para os revolucionários da Escola de Frankfurt, acreditar em Deus significava ser fascista. Foi dessa luta contra os “preconceitos” que nasceu o “politicamente correto”, atualmente triunfante.

    A revolução cultural nos filmes e na televisão

    Nos final dos anos 1930, algumas personalidades eminentes da Escola de Frankfurt, como Adorno e Horkheimer, mudaram-se para Hollywood, onde se aliaram a Aldous Huxley, Christopher Isherwood, Igor Stravinsky e Alexander Korda. Juntos, eles abriram as portas para a “indústria da cultura de massa”, utilizando-a como veículo de subversão cultural em grande escala, e puseram em prática o projeto do “Pessimismo Cultural”. Não por coincidência, Korda era antigo membro do Ministério da Cultura e Educação da Hungria, onde servira sob o governo bolchevique de Bela Kun e obedecia diretamente às ordens de Lukacs – fundador da Escola de Frankfurt e espião chefe do Comintern. Os ingleses, Huxley e Isherwood, eram veteranos dos projetos de guerra psicológica promovidos pela Sociedade Fabiana. [23]

    Os anticomunistas de mente estreita ignoravam a agenda da “guerra cultural” da Escola de Frankfurt – a do Comintern – e passaram tanto tempo à procura de mensagens subliminares de cunho revolucionário nos cinemas de Hollywood, que não perceberam a crescente produção de filmes em que se exaltava o sexo, o assassinato e o abuso de drogas. Caso tivessem estudado os trabalhos pervertidos de Horkheimer e Adorno, ou os de Huxley e Ishwerwood, teriam percebido muito antes que o nome do jogo se chamava subversão psicológico-cultural.

    Já nos anos 1950, Adorno era articulista de vários jornais de “Teoria Crítica”. Dizia ele que no momento em que a maioria dos americanos caísse na armadilha de gastar a maior parte do tempo livre em frente à televisão ou à tela de cinema, se alcançaria o processo de destruição da “sociedade capitalista burguesa”. Aldous Huxley descrevera esse processo de lavagem cerebral – acentuado pelo uso de drogas psicodélicas – como “um tipo de campo de concentração sem lágrimas”, e a “revolução final”.

    A ação nas escolas

    Ao mesmo tempo em que os membros da Escola de Frankfurt e seus companheiros de viagem invadiam Hollywood, o aparato ideológico da Escola atacava o sistema educacional americano, desde o jardim de infância até a pós-graduação. Os autores do presente estudo redigiram também um relato detalhado sobre como a Escola de Frankfurt, ajudada por John Dewey e seus seguidores da National Education Association, e pelos laboratórios de Kurt Lewin, subverteram o sistema educacional americano (ver The Crisis in American Education, Jeffrey Steinberg e Paul Goldstein, 1995). O fato é que, ao final da Segunda Guerra Mundial, as escolas públicas – outrora instituições dedicadas a preparar a juventude para agir como cidadãos de uma república democrática – haviam se transformado em laboratórios nos quais se experimentavam teorias de controle mental de massas e se apregoava a revolução social marxista-freudiana. A Universidade de Chicago, casa da Escola de Frankfurt e da subversão de John Dewey, contribuiu com um dos estudos seminais acerca do método de transformação da educação americana, editado pelo professor Benjamin Bloom e intitulado Taxonomy of Education Objectives.

    Em 1924, Betrand Russel já escrevia em sua obra O futuro da ciência[24]: “Acredito que o tema de maior importância política será o da psicologia de massa (…) Os psicólogos do futuro terão a sua disposição certo número de turmas infantis sobre as quais experimentarão diferentes métodos, a fim de lhes inculcar que o branco é preto. Em pouco tempo, concluirão que as influências do lar são um empecilho e que, se a doutrinação não começar antes dos dez anos, tornar-se-á muito mais difícil (…) Cabe aos futuros cientistas precisar essas máximas e descobrir exatamente o que é necessário fazer para que as crianças acreditem piamente que o branco é preto. No momento em que se aperfeiçoar a técnica, qualquer governo que controlar a educação de pelo menos uma geração de crianças será então capaz de controlar seus súditos com tranquilidade, sem a necessidade de exércitos ou polícia.” [25]

    É preciso entender claramente o que diz Jeffrey Steinberg no texto anterior. Não se trata de atribuir à Escola de Frankfurt a totalidade da subversão nos campos da música, do cinema, da televisão e da educação, mas de mostrar que, nesses vários campos, a Escola explicou em detalhes o que faria e desempenhou papel de liderança.

    Retorno a Frankfurt

    Em 1950, Horkheimer, Adorno e Pollock deixam os Estados Unidos e se restabelecem em Frankfurt, onde montam um novo “Instituto de Pesquisa Social.” Esse instituto prosseguiu em suas atividades até a morte de Adorno em 1969. Parte do grupo, que incluía Herbert Marcuse, permanece nos Estados Unidos.

    O trabalho da Escola de Frankfurt difundiu-se principalmente de 1923 a 1969, ao longo de 46 anos. Deste modo, no início da década de 1970 o movimento já estava estabelecido, de sorte que os jovens poderiam continuá-lo.

    5. As idéias fundamentais da Revolução Cultural

    Nos parágrafos anteriores, esboçamos o conceito geral de revolução cultural, concebido pela Escola de Frankfurt. A seguir, expomos uma explicação sistemática dela, retirada das obras de Herbert Marcuse.

    E por que Herbert Marcuse? Porque ele explicou com clareza as idéias fundamentais (conhecidas como “Teoria Crítica”) que ele e seus colegas revolucionários conceberam e implantaram, e é o autor com mais obras disponíveis em língua francesa.

    O conceito de revolução cultural

    É correto falar em revolução cultural, já que o protesto se dirige a todo o conjunto do establishment cultural, inclusive a moralidade da sociedade vigente.

    A idéia e a estratégia tradicional de revolução estão ultrapassadas (…) Precisamos empreender um tipo de desintegração sistêmica que seja difuso e disperso. [26]

    O processo de revolução cultural

     – Uma revolução tranquila

    A subversão cultural não se difundirá por processos terroristas, mas devagar, de modo pacífico e sutil. Daí a idéia de que a revolução cultural seria uma “revolução tranqüila”. [27]

    – Uma nova sensibilidade revolucionária

    O abandono do modelo clássico da luta de classes (pois a classe operária já não é revolucionária) far-se-á em benefício de uma nova sensibilidade revolucionária. A revolta há de se desenvolver em dois domínios novos: as necessidades não materiais (autodeterminação, relações humanas) e as dimensões psicológicas da existência (raça, sexo, etc.).

    Em conformidade a essa nova sensibilidade revolucionária, a perspectiva marxista vai explorar as idéias de Freud.

    Esse sistema é denominado “Marxismo Cultural”, o seu conteúdo ideológico se chama “Teoria Crítica”.

    Relembremos que o livro já citado, The Authoritarian Personality, de Theodor Adorno, pode ser considerado o manifesto da “Teoria Crítica”.

    A exploração das idéias de Freud sob a ótica marxista – o pansexualismo

    Enfatizemos esse ponto, que constitui uma das idéias principais da Escola de Frankfurt. Marcuse resumia a teoria freudiana da seguinte maneira:

    1. A essência do ser é “eros”, a busca pelo prazer, ou seja, o “pansexualismo”;
    2. O indivíduo precisa aceitar o controle cultural de suas necessidades instintivas, caso contrário não será possível a existência de uma sociedade civilizada;
    3. Daí se segue o conflito entre o princípio de prazer (satisfação livre das necessidades instintivas) e o princípio de realidade (em que as necessidades são controladas).

    O marxista tem interesse no conflito e na dialética, e em tudo o que pode estimulá-los; a concepção marxista de civilização difere da de Freud. Do esquema freudiano, como resumido acima, o marxista aceitará o item “a”, mas não o “b”.

    As idéias de Freud serão utilizadas como elemento dialético para destruir a civilização vigente e favorecer “uma civilização que se desenvolva a partir de relações libidinosas e se fundamente nelas.”

    Por conseguinte, convém desenvolver o pansexualismo de forma metódica, explorando a fundo seus efeitos destrutivos.

    O pansexualismo

    Freud sistematizou o pansexualismo; entretanto, a origem dele remonta à Cabala[28] e às religiões pagãs. É uma teoria complexíssima, cujos elementos centrais se podem resumir deste modo:

    – Segundo a Cabala, Deus pode ser considerado em si mesmo ou em sua manifestação;

    – Em si mesmo Deus é um ser indefinido, vagamente chamado En Soph (Aquele Que Não Tem Limites) ou Ayin (o Não-Ser);

    – Em sua manifestação, Deus se manifesta por “emanações” pelas quais se aperfeiçoa: daí surge a idéia de um Deus que evolui, e a do panteísmo (em que a emanação substituiria a criação);

    – As emanações são dez e se chamam Sefirot. Três são masculinas, e três femininas;

    – As sefirot Vitória (masculino) e Glória (feminino) se concentram na sefira Fundamento[29], cujo símbolo é um órgão reprodutor.

    Compreende-se que, nestas condições, o princípio sexual, apresentado como parte integral da divindade, tende a permear toda a realidade.

    O pansexualismo da Escola de Frankfurt (e o da revolução cultural, para a qual deu uma poderosa contribuição) se radica na Cabala e, por conseguinte, tem conotação religiosa.

    A exploração da dialética masculino-feminino

    O “pansexualismo” – a libertação das paixões instintivas do homem – constitui uma primeira exploração da diferença dos sexos; outra forma de exploração sistematicamente utilizada dessa diferença será a subversão do relacionamento tradicional entre o homem e a mulher, que se granjeia pela execução metódica das seguintes ações:

    – atacar a autoridade paterna; negar os papéis específicos de pai e mãe;

    – eliminar as diferenças na educação entre meninos e meninas;

    – abolir as formas de superioridade masculina (daqui a presença de mulheres no exército);

    – considerar as mulheres e as crianças como uma classe oprimida e os homens como uma classe de opressores.

    Em apoio à subversão, vem a ideologia do feminismo radical.

    Além do pansexualismo e da subversão do relacionamento entre homem e mulher, os mentores da revolução cultural dispunham de dois instrumentos poderosos para destruir a família.

    Métodos de ação psicológica

    A Escola de Frankfurt soube aproveitar de maneira notável os progressos científicos de seu tempo: o progresso dos meios de comunicação (sua ação com relação à música e aos filmes), e o progresso nas ciências psicológicas.

    No campo da psicologia, Abraham Maslow desempenhou um papel importante ao aperfeiçoar o método de condicionamento psicológico conhecido na França como “dinâmica de grupo” e nos Estados Unidos como “sensitivity training” (“treinamento sensitivo”) ou “T Groups”. [30]

    6. Os resultados no Ocidente

    Inspiração para movimentos de protesto

    A Escola de Frankfurt influenciou diversos movimentos. Podemos citar como exemplos a Nova Esquerda Americana dos anos 1960, o concomitante Movimento de Libertação das Mulheres (o livro de Betty Friedan, The Feminine Mystique, data de 1963), e o movimento de maio de 1968, na França.

    A contracultura

    As idéias da Escola de Frankfurt se encarnaram na “contracultura”, o movimento “cultural” que dominou a influente esquerda americana até o final dos anos 1960. Pode-se descrevê-la do seguinte modo:

    A contracultura é a base cultural da nova esquerda. Ela se esforça em descobrir novos tipos de organização social, novos modelos de família, novos costumes sexuais, novos estilos de vida, novas formas estéticas e novas identidades contrárias ao poder político, ao estilo de vida burguês e à ética de trabalho protestante. [31]

    Essa descrição data de 1968. Hoje em dia, contudo, a contracultura – caracterizada pelo pansexualismo, pela destruição da autoridade paterna e pelo feminismo – é a base cultural não somente da esquerda americana, mas de toda (ou quase toda) a sociedade ocidental.

    A invasão do pansexualismo

    Voltemos ao pansexualismo. Dada a sua origem religiosa, é sem dúvida o elemento mais perigoso. Ele invadiu nossa sociedade, sendo o responsável pela indecência na moda, nos anúncios, nos cartazes, nas revistas, nos filmes, na televisão, no rádio, pelo comportamento degradado de jovens e adultos e pela Educação Sexual. O pansexualismo recebe apoio do Estado, e seus efeitos nocivos atingem até mesmo os meios católicos tradicionais. Como exemplo, citemos um recente testemunho de um padre libanês:

    É preciso se render às evidências: não parece que as autoridades religiosas deste país (Líbano) sejam elas católicas, ortodoxas ou muçulmanas, estão percebendo a galopante degradação da moral. Particularmente através dos meios de comunicação e dos modelos americanos e anglo-saxões (…)

    As autoridades eclesiásticas deviam no mínimo reagir. Mas, de que adianta vir a público e solicitar a censura das publicações imorais (a maior parte em língua inglesa) ou dos repugnantes programas de televisão, quando os próprios pastores ficam em silêncio perante a oferta dos corpos nus, e os paroquianos, indiferentes, não são avessos ao que se lhes oferecem?

    O impressionante, porém, é que no Oriente Próximo a maré de pornografia, os desvios comportamentais e a exibição do vício crescem somente em regiões “cristãs”. Não é nos países vizinhos de maioria muçulmana que se admite – com a emissão de vistos e permissões de residência – a emigração de 7.000 prostitutas vindas do leste europeu, cujos cabelos loiros levam jovens (e também adultos) libaneses à perdição (…)

    É também alarmante ouvir a seguinte afirmação de um monge de Damasco: “Aqui, o islã protege o cristianismo, pois não permite as importações que corrompem a moral (…)”

    Seria bom que relêssemos, no Apocalipse, o que diz Nosso Senhor ao Anjo da Igreja de Laodicéia (Apocalipse 3, 14-22). Só nos resta concordar! [32]

    O projeto cibernético

    A definição de “cibernética” é: “o estudo dos processos de controle e comunicação em sistemas mecânicos, eletrônicos e biológicos.”

    Essa “ciência,” desenvolvida nos Estados Unidos a partir de 1942, se baseia na falsa hipótese de uma “similaridade essencial nas formas de comunicação e controle (entendido no senso de comando) entre máquinas e seres humanos.”[33] Ela se apresenta como uma mistura de teorias científicas bem fundadas (principalmente a teoria da informação) e a ideologia materialista (o homem é apenas uma máquina aperfeiçoada; e as máquinas – sem falar nos computadores – reproduzirão o funcionamento do cérebro humano e chegarão até a ultrapassá-lo).

    Foi em Nova Iorque, em maio de 1942, numa conferência organizada pela Macy Foundation, que se lançou o grupo de trabalho que criou a cibernética. Mais tarde ele seria conhecido como Grupo Cibernético. A sua proposta inicial, chamada de Man Machine Project (Projeto Homem-Máquina), tinha como objetivo “reunir engenheiros elétricos, biólogos, antropólogos e psicólogos para conceber experiências de manipulação social (experiments in social control), baseadas na crença de que o cérebro humano não passa de uma máquina complexa dotada de entradas e saídas, e que o comportamento humano pode ser programado, em escala individual e social.” [34]

    O trabalho do grupo tomou forma após a Segunda Guerra Mundial com o apoio do Massachusetts Institute of Technology.[35] A Macy Foundation organizou dez conferências, entre 1953 e 1964, que demarcavam as fases do trabalho.

    Aí se vê o aparecimento dos membros da Escola de Frankfurt, que desde o começo haviam compreendido a importância do projeto cibernético para o seu empreendimento mais vasto da revolução cultural.

    Enquanto dirigia os grupos de estudos sobre preconceito, Max Horkheimer, diretor da Escola de Frankfurt, colaborou com o Grupo Cibernético. Em 1948, ele participou da fundação da World Federation of Mental Health (Federação Mundial para Saúde Mental), um dos projetos mais nefastos que o grupo promoveu.

    Kurt Lewin, companheiro de viagem da Escola de Frankfurt, desempenhou papel importante dentro deste grupo. No MIT, ele fundou o Centro de Pesquisa para Dinâmicas de Grupo, em seguida criou os National Training Laboratories (Laboratórios Nacionais de Treinamento), que atuavam na mesma área. Juntamente com Karl Korsch, outro membro da Escola de Frankfurt, ele monta uma fundação com o intuito de desenvolver a inteligência artificial.

    Eis aqui como Jeffrey Steinberg apresenta o papel da Escola de Frankfurt e do grupo associado, o Instituto Tavistock,[36] no projeto cibernético:

    O que Lukacs e seus protegidos da Escola de Frankfurt desprezavam no cristianismo era a crença na santidade da alma, a idéia de que todo ser humano foi criado por Deus à sua imagem, e a de que todo indivíduo possui uma centelha divina de criatividade, que pode ser usada para melhorar o destino de todo o mundo. Lukacs e seus companheiros compreenderam muito bem que qualquer revolução no Ocidente não poderia ter sucesso antes que o princípio de “Imago Viva Dei” (o homem como imagem viva de Deus) fosse destruído e substituído por uma noção de humanidade mais animalizada e pessimista.

    É aqui onde a “Kulturkampf” de Lukacs, Adorno, Horkheimer e Marcuse causou, no pós-guerra, um impacto direto na revolução tecnológica da comunicação de massa. O ponto de convergência era um projeto pouco conhecido, lançado no começo dos anos 1940: O “Projeto Homem-Máquina” – como os participantes do Grupo Cibernético o denominavam.

    Os nomes mais conhecidos aos quais se associa a invenção do termo “cibernética” são John Von Neumann e Norbert Wiener. A verdade, porém, é que as figuras dominantes no grupo eram outras. Os verdadeiros pioneiros da famosa “revolução da informação” foram Margaret Mead (que contribuiu ao lançar o movimento feminista), Gregory Bateson (marido de Margaret Mead), Kurt Lewin, Max Hokerheimer e o Dr. John Rawlings Rees, todos eles figuras eminentes da Escola de Frankfurt, do Instituto Tavistock, ou de ambos.

    Os membros do Grupo Cibernético tomaram emprestado de Georg Lukacs uma página do seu projeto de revolução social: argumentavam que não havia nada de divino no ser humano e que, em breve, os homens projetariam “máquinas pensantes”, mais inteligentes que eles mesmos. [37]

    7. A Revolução Cultural hoje

    Quase quarenta anos depois da morte de Adorno em 1969, e quase trinta anos depois da morte de Marcuse em 1979, a revolução cultural prossegue, nutrindo-se das idéias da Escola de Frankfurt, cujo objetivo principal foi expresso por Willi Munzenberg da seguinte maneira: “Nós iremos tornar o Ocidente tão corrupto que irá cheirar mal”. [38]

    Já analisamos o tema do pansexualismo, atualmente mais popular que nunca. Trataremos agora do projeto cibernético e dos jogos eletrônicos.

    Como foi indicado acima, a Escola de Frankfurt desempenhou grande influência sobre o Grupo Cibernético durante os anos 1940 e 1950. É possível encontrar a mesma inspiração nas ramificações desse grupo. Vejamos o exemplo de Media Lab:

    Herdeiro direto do Grupo Cibernético, o Media Lab foi criado pelo MIT nos anos 1980. Os sociólogos trabalharam de mãos dadas com engenheiros e designers de máquinas, produzindo computadores cada vez mais velozes (…) e a primeira geração de simuladores computadorizados (…) “O laboratório devia fornecer uma fusão intelectual de duas disciplinas radicalmente diferentes, ambas em rápida evolução: as tecnologias de informação e as ciências humanas” (Steve Joshua Heims, The Cybernetics Group). [39]

    Qual era o estado de espírito desses pesquisadores? No seu livro The Cybernetics Group, Steve Joshua Heims indica que, na década de 1980, o ambiente de estudos da cibernética propiciara a criação de uma religião própria, um sistema pagão em total acordo com o que Timothy Leary denominou de “paganismo científico.”

    O paganismo científico dos pesquisadores era uma coisa; outra coisa, muito mais grave, era o fato de que os resultados que obtiveram lhes permitiram desenvolver o paganismo científico em grande escala e, de forma mais geral, a revolução cultural da qual o paganismo científico é um elemento.

    O Media Lab do MIT, juntamente com o Standford Artificial Intelligence Lab, foi um dos principais centros de pesquisa (…) cujos estudos foram utilizados paralelamente pelos programas de simulação militar do Pentágono e pela crescente indústria de jogos eletrônicos. [40]

    A Escola de Frankfurt, o Grupo Cibernético, o Media Lab: eis alguns das filiações que permitiram o aperfeiçoamento técnico de um dos instrumentos mais eficientes de revolução cultural: os jogos eletrônicos. (Isso não significa que o Media Lab seja o responsável pela orientação imoral da maior parte desses jogos.)

    Jogos eletrônicos: instrumentos de revolução cultural

    A segunda geração do mercado de jogos eletrônicos dos Estados Unidos está crescendo rapidamente. De acordo com Jeffrey Steinberg (“Draft Report,” pág.93), jogos de “apontar e disparar” geram de 9 a 11 bilhões de dólares por ano.

    Esses jogos representam o aperfeiçoamento dos jogos role-playing, desenvolvidos a partir da década de 1970. Eles permitem que o jogador permaneça por horas a fio num mundo virtual em que pode ser quem deseja e agir sem sofrer as consequências de seus atos. Uma pessoa – jovem ou não – que adquire esse hábito de desligar-se da realidade torna-se presa fácil da sugestão manipuladora do jogo.

    O jogo, mesmo se de boa índole, pode no entanto causar um efeito negativo resultante do tempo, geralmente longo, despendido no mundo virtual.

    Muitas vezes, porém, a orientação do jogo é má: há neles diversos tipos de violência, simulações de tiro demasiado realistas (úteis para o treinamento de soldados, talvez, mas claramente perigosas para os jovens deixados a si sós), aspectos pornográficos (o pansexualismo está em toda parte), a incitação à magia (o espectador-ator lança feitiços que, na tela, são eficazes), o satanismo e, de um modo geral, a exaltação da vontade de poder ligada a uma concepção materialista da vida.

    Eis um exemplo de como uma empresa apresenta o jogo eletrônico “Gangsters” (o qual, segundo algumas pessoas, é inofensivo):

    Nesse jogo você pode ser um gangster numa cidade como a Chicago dos anos 1920. Sua tarefa é controlar uma organização clandestina em suas várias atividades: extorsão, tráfico de álcool, prostituição, intimidação, usurpação, jogos de azar, guerra entre gangues, suborno de policias, assassinatos, entre outras atividades lucrativas. [41]

    Essa descrição dá uma impressão geral do jogo, mas eis o seu o objetivo:

    O objetivo do jogo é construir a sua própria gangue e o seu próprio império na cidade. Para isso, é preciso derrotar as outras três gangues que ali também operam e não ser preso pela polícia. [42]

    Um jovem que jogue por horas a fio e vivencie os enredos, ao fim ficará tentado a transpor algumas das experiências virtuais para o mundo real. [43]

    É o que tem acontecido nos Estados Unidos nestes últimos tempos, em que alguns jovens começaram a assassinar seus colegas de classe (jovens entre 11 e 17 anos). As investigações demonstraram que os jovens assassinos atiravam como profissionais e adquiriram essa habilidade (e o desejo de pô-la em prática) mediante o uso de jogos eletrônicos. [44]

    É preciso dar o braço a torcer: grande parte dos jogos eletrônicos disponíveis no mercado corresponde bem aos objetivos da Escola de Frankfurt: difundir uma “cultura” baseada no pessimismo, na depravação, na liberdade sexual, na violência e no uso de drogas.

    Conclusão

    A Escola de Frankfurt iniciou seu trabalho no começo de 1923. A partir dos anos 1950, a revolução cultural que inspirou (embora ela não tenha sido a única responsável), desenvolveu-se nos Estados Unidos e depois na Europa. Cerca de vinte anos depois, a revolução de maio de 1968, sob a influência de Marcuse, marca uma etapa importante. Depois de 1968, seriam necessários ainda trinta anos para ver o triunfo da contracultura, a qual teve início oitenta anos antes.

    Estamos lidando com uma operação de longo prazo, concebida com maestria. Os homens de pensamento e ação que a conduziram previram o que se devia fazer e, com intenção de continuidade, realizaram-no ao selecionar os setores prioritários (universidades, música, comunicação audiovisual, ações psicológicas e educacionais) e ao pôr a seu serviço as redes que lhes foram oferecidas. O sucesso foi além do esperado.

    Como explicar o fato de que esse plano conseguisse em países católicos o mesmo êxito que logrou em países protestantes? Sem dúvida isso ocorreu porque os católicos tiveram de enfrentar, além da revolução inspirada pela Escola de Frankfurt, outra revolução: a que começou a seviciar o interior da Igreja nos anos 1960. Foi uma confusão generalizada: uma nova Missa revolucionária, um novo calendário litúrgico, o abandono do latim e do hábito religioso, a substituição do órgão e da música tradicional pela música profana, modificações na arte religiosa[45], a transformação das igrejas em salas de conferência e a catequese inconsistente na qual se propõe uma religião informal e pouco exigente.

    O ambiente católico se dissolvia no exato momento em que os fiéis mais precisavam dele, daí a extirpação dos católicos que abandonaram em massa a prática religiosa e se tornaram assim plenamente vulneráveis à revolução cultural vinda de Frankfurt via Estados Unidos.

    O paralelismo entre as duas revoluções é notável: menos de dez anos separam uma da outra; líderes políticos favoreceram a primeira enquanto autoridades religiosas apoiaram ou permitiram a implantação da segunda. Poderíamos nos perguntar se não havia alguma ligação entre elas.

    Quais reações estarão à altura dum mistério de iniquidade que se instalou de modo tão profundo? Certamente, é necessário proteger, dentro de nosso raio de ação, a cultura católica, conservar vivos os restos de cristandade que permanecem entre nós e não ceder ao curso geral dos acontecimentos, com a desculpa de que os tempos mudaram.

    Tudo isso pressupõe certo ascetismo. É preciso reprimir o que deve ser reprimido, a fim de evitar a contaminação pela contracultura, da mesma forma que os primeiros cristãos se abstinham de frequentar as termas e os teatros romanos, para escapar da corrupção de seu tempo.

    Para concluir, enfatizemos a utilidade de conhecer – para melhor combatê-lo – o processo de desintegração que a Escola de Frankfurt e seus discípulos implantaram com tanta inteligência. Não podemos negar esses fatos, pois, como observa o Pe. Joseph Lemann[46] no livro L’Entrée des israélites dans la société française (pág.205):

    Na História, quem não se informa, não só a respeito da Providência mas também do Inferno, terá uma visão equivocada e só dará explicações incompletas. Deus e Satanás lutam pelo coração dos homens; todos nós sabemos disso; mas lutam também pela direção da sociedade. Já o revela a primeira página da Bíblia; Cristo, dirigindo-se a Igreja, lembrou-nos que as portas do Inferno não prevalecerão (…); e desde então, a história desses dezoito séculos nos manifesta, acima das querelas entre cidades, países, nações e raças, o espetáculo do combate entre esses dois colossos: a malícia infernal que devasta a sociedade, e a graça divina que a repara, ampara e a estimula sempre a avançar.

    Arnaud de Lassus

    Tradução: Permanência


    [1] Fórmula socialista de 1968. A respeito do tema, ver o livro de Pascal Bernardin, L’Empire Écologique, capítulo IV, Techniques de contrôle non aversif (non répressif), e o comentário na brochura da A.F.S (Action Familiale et Scolaire), Écologie et mondialisme.

    [2] Ver na A.F.S nº. 153 (fevereiro de 2001), o artigo de Maciej Giertych, La situation politique et économique en Pologne.

    [3] Citado por Phillippe Ploncard d’Assac em Le nationalisme français, pág.26.

    [4] Alta Venda: loja maçônica de alto grau que, durante a primeira metade do século XIX, dominou a maçonaria europeia.

    [5] Pseudônimo de um agente da Alta Venda.

    [6] Carta de 18 de janeiro de 1822, citada por Crétineau-Joly, em L’Eglise romaine en face de la Révolution, t. II, pág. 104.

    [7] Pseudônimo de um agente da Alta Venda.

    [8] Carta de 9 de agosto de 1838; citada por Crétineau-Joly, op.cit., t.II, pág.128. Cf. a brochura da A.F.S, Connaissance élémentaire de la franc-maçonnerie, pág.110.

    [9] Ralph de Toledano, L´École de Francfort, (manuscrito não publicado, 2000), pág. 11. O estudo demonstra como nasceu a idéia de revolução cultural, sob a liderança da Escola de Frankfurt.

    [10] O criador da Cheka, a polícia política soviética.

    [11]  Terceira Internacional Comunista, fundada em 1919 por Lênin e dissolvida por Stálin em 1943. Reconstituída em Sofia, em 1995.

    [12] A Enciclopédia Marxista afirma que ele foi assassinado em 1944. – Ed. Apropos.

    [13] Ralph De Toledano, op.cit., pág.14.

    [14] ibid., págs. 14-15.

    [15] Willi Muzenberg, citado por Ralph de Toledano, ibid, op.cit.

    [16] ibid., pág. 15. Esse ponto será desenvolvido a seguir.

    [17] Data oficial de criação: 3 de fevereiro de 1923, por um decreto do Ministério da Educação, cf. Martin Jay, The Dialectical Imagination: A History of the Frankfurt School and the Institute of Social Research, [University of California Press, 1996], pág.10.

    [18] Rolf Wiggershaus, The Frankfurt School, pág.17. [N. do T.: Há tradução em português: A Escola de Frankfurt: História, desenvolvimento teórico, significação política (2002, São Paulo, Difel).]

    [19] Martin Jay, The Dialectical Imagination, pág.175.

    [20] ibid., pág. 29.

    [21] Estudo sobre jogos eletrônicos e seus efeitos nocivos.

    [22] Obra publicada em 1950.

    [23]  Sociedade Fabiana: movimento socialista inglês fundado em 1883. Deu origem ao Labour Party (Partido Trabalhista).

    [24] Icarus, or the Future of Science, London, 1924.

    [25] Jeffrey Steinberg, Michele Steinberg e Anton Chaitkin, Draft Report on Manchurian Children, (estudo não publicado, 2001) págs. 5-8)

    [26] Texto de H. Marcuse, citado em The Resister, verão-outono de 1998.

    [27] Paralelamente ao trabalho efetuado pela Escola de Frankfurt, o teórico marxista italiano Antonio Gramsci (1891 – 1937) desenvolvia a mesma idéia. Gramsci permaneceu na prisão desde 1926 até a sua morte.

    [28] No pensamento judaico, geralmente se associa o ensinamento esotérico e místico à Cabala. No sentido mais elástico da palavra, ela designa as sucessivas correntes esotéricas que se desenvolveram a partir do período do Segundo Templo e que se tornaram os elementos dinâmicos na história do judaísmo (Dictionnaire encyclopédique du judaisme).

    [29] As sefirot Vitória, Glória e Fundamento em hebraico se chamam Netzach, Hod e Yesod, respectivamente. – Ed. Apropos.

    [30] Cf. The Resister, verão-outono, 1998, pág. 54. Sobre a dinâmica de grupo, ver a brochura da A.F.S, Connaissance élementaire du Nouvel Age,  págs. 33 – 37. Ver também o livro de Ed. Dieckermann, Jr., Sensitivity Training and the Cult of Mind Control.

    [31] Thedore Roszah, Youth and the Great refusal, The Nation, em 1968. Citado por News Weekly, 10 de fevereiro de 2000.

    [32] Boletim da Associação St Pierre d’Antioche et de tout l’Orient (Les Sablons, 61560 Bazoches-sur-Hoeur), nº 23, março de 2001, artigo Repens-toi, Laodicée. Ver sobre esse tema o artigo na A.F.S nº 55 (junho de 2001).

    [33] Citado por Pierre de Latil, La pensée artificielle.

    [34] J. Steinberg, op.cit, pág. 86.

    [35] Geralmente indicado com a sigla MIT.

    [36] Centro Britânico de Psicologia de Grupo, do qual John Rawling Rees era diretor.

    [37] J. Steinberg, op.cit, págs.12-13. O autor não é católico. A frase “todo indivíduo possui uma centelha divina” é um pouco ambígua e deve ser entendida como “cada indivíduo pode possuir a graça divina.”

    [38] Citado por Ralph de Toledano, op.cit, pág.26.

    [39] J. Steinberg, op.cit, págs. 90-91.

    [40] Ibid., p.93.

    [41] Citado por J. Steinberg, ibid., pág. 55.

    [42] Ibid.

    [43] Encontram-se no já citado estudo de J. Steinberg outros exemplos de cenários de jogos eletrônicos.

    [44] Ver o estudo de J. Steinberg, segunda parte, “The Killer Children: A Chronology,” o qual analisa dez casos de assassinatos de crianças por crianças, incluindo os ataques ao Ginásio de Columbine, Littleton e Colorado (20 de abril de 1999).

    [45] Cf. a brochura da A.F.S, Un signe des temps, la cathédrale d’Evry.

    [46] Pe. Joseph Lemann (1836-1915), judeu que se converteu junto com seu irmão Agostinho. Autor de livros memoráveis sobre a Revolução Francesa.

    -Publicidade -
    spot_img

    Relacionadas

    -Publicidade -