Murillo Torelli, professor de Ciências Contábeis da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM)
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Nas últimas semanas, temos acompanhado com preocupação o avanço das propostas populistas do governo Lula, que, em uma tentativa desesperada de reconquistar a aceitação da classe média, vêm ofuscando os fundamentos econômicos necessários para manter a estabilidade do país. Enquanto o governo lança medidas para estimular o consumo e ampliar benefícios à população, a inflação segue sua trajetória ascendente – um reflexo direto do desequilíbrio fiscal.
O governo, ao prometer um crescimento acima de 3% – uma meta que supera o potencial real da economia brasileira, estimado em 2,5% – ignora o básico dos fundamentos econômicos. O resultado inevitável é o superaquecimento do mercado, que impulsiona a inflação a níveis insustentáveis.
Para conter esse fenômeno, o Banco Central (BC) tem sido forçado a elevar a taxa de juros, a última decisão tendo fixado a taxa em 14,25%. Esse aumento, longe de ser uma solução, apenas evidencia a fragilidade da política econômica implementada pelo governo. A cada nova medida populista, o país se vê obrigado a pagar um preço alto em termos de poder de compra e estabilidade econômica.
Nas últimas três semanas, o governo lançou medidas destinadas a “beneficiar” a classe média – um segmento que precisa de “curativos” para melhorar a popularidade de Lula III.
Entre elas, destaca-se o aumento do limite de isenção do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) para R$ 5 mil e o novo empréstimo consignado para trabalhadores do setor privado. Tais iniciativas, claramente voltadas para uma estratégia de aproximação com o eleitorado, contrastam com os esforços do BC de conter a inflação e sinalizam um risco maior para as contas públicas. Além disso, a necessidade de aprovação dessas medidas pelo Congresso Nacional aumenta ainda mais a incerteza e o risco de que, durante o processo, medidas ainda mais controversas sejam aprovadas.
O que se observa é uma clara tentativa de vincular benefícios pontuais a curto prazo à manutenção de uma imagem positiva do governo, enquanto os problemas estruturais – como o elevado endividamento de famílias e empresas – permanecem sem solução.
Há uma intensificação do debate quando se percebe que o Banco Central, historicamente responsável por manter a disciplina econômica, não é mais comandado por Roberto Campos Neto, mas por um indicado de Lula, o que reforça a suspeita de que a política econômica atual está, de fato, sendo utilizada como instrumento político. Essa mudança levanta a pergunta inevitável: em quem Lula vai tentar colar a culpa da inflação e dos juros altos?
A estratégia do governo, ao apostar em medidas populistas e na aproximação com a classe média, não passa de um paliativo para um problema muito maior. Enquanto tenta seduzir eleitorado com benefícios imediatos, a economia paga o preço em forma de inflação e juros elevados.
*O conteúdo dos artigos assinados não representa necessariamente a opinião do Mackenzie.
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