Recentemente, a demissão do apresentador Rodrigo Bocardi da TV Globo trouxe à tona a importância dos códigos de conduta empresarial. Bocardi foi desligado da emissora após uma investigação interna concluir que ele descumpriu normas éticas ao supostamente cobrar empresas para evitar críticas durante os telejornais que apresentava.
Segundo o especialista no assunto e professor da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), Leonardo Fabris Lugoboni, o caso reforça o papel dos códigos de conduta na governança corporativa e na prevenção de comportamentos antiéticos no ambiente de trabalho.
“Um código de conduta é um documento que estabelece diretrizes para o comportamento de todos os stakeholders da empresa, incluindo funcionários, fornecedores e acionistas. Ele tem como base os princípios, valores e diretrizes morais da organização, buscando garantir a conformidade com legislações e regulações aplicáveis”, explica o docente da FECAP.
Lugoboni destaca que a clareza do texto é fundamental. Muitas empresas falham ao redigir documentos complexos e pouco acessíveis. A disseminação das normas, treinamentos e discussão ativa do tema ajudam no engajamento dos funcionários.
Segundo o professor, os códigos de conduta costumam abordar temas como:
- Assédio moral e sexual;
- Conflito de interesse;
- Canais de denúncia;
- Confidencialidade e privacidade de informações;
- Regras sobre recebimento de presentes e gratificações;
- Discriminação e respeito ao indivíduo;
- Suborno e corrupção.
CONDUTAS PODEM LEVAR À DEMISSÃO
Comportamentos que configuram fraudes, discriminação racial e corrupção podem levar à demissão por justa causa. No caso de Bocardi, mesmo não havendo crime, a TV Globo optou por seu desligamento devido ao impacto à imagem da empresa. Segundo informações veiculadas pela imprensa, a decisão foi tomada após avaliação do Comitê de Auditoria e Compliance e da Comissão de Ética e Conduta.
“No Brasil, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) prevê demissão por justa causa para violações graves. Contudo, para evitar contestações judiciais, as empresas precisam ter códigos de conduta claros, promover treinamentos e documentar evidências das transgressões”.
Para lidar com violações sem comprometer sua imagem, as organizações devem adotar transparência no processo investigativo, garantir o direito à defesa, estruturar investigações e contar com comitês de ética imparciais. O uso de canais de denúncia anônimos e consultorias externas também pode reforçar a credibilidade do processo.
“O caso Bocardi evidencia a necessidade de um compliance sólido, da adoção de boas práticas empresariais para manter a integridade e a reputação corporativa, além da realização de treinamentos constantes e da divulgação das diretrizes para toda a equipe”, finaliza Lugoboni.
O especialista: Leonardo Fabris Lugoboni é doutor em Administração pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo (USP). É professor da graduação e do Mestrado da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado. Pesquisador e consultor na linha de estratégia e governança corporativa.