Um ex-morador de rua e ex-dependente químico foi aprovado no vestibular da Universidade de Brasília (UnB) para o curso de letras. Desde que recebeu a notícia, Valdemir Bispo de Jesus diz que mal pode esperar pelo começo das aulas, em junho.
“Passar no vestibular já é uma vitória para qualquer um, mas no caso de um ex-dependente, é maior ainda. As pessoas não fazem ideia de como é viver totalmente à margem da sociedade”, diz.
Valdemir afirma que chegou “ao fundo do poço” quando era usuário de crack. Mas, há quase seis meses, foi acolhido por uma casa de apoio em Taguatinga, resultado de uma parceria entre a Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes) e o Instituto Inclusão.
Ele afirma que ainda convive com o fantasma das recaídas, mas tem certeza que está cada vez mais perto de vencer o vício.
“Os dependentes de crack são associados a tudo de pior que existe na sociedade. Mas são pessoas que também têm sonhos, que também querem uma chance, um banho, uma ajuda. A gente também consegue conquistar as coisas. Mas é uma luta diária contra as drogas”, afirma.
O futuro professor diz ainda que foi aprovado na prova sem estudar. “Fiquei surpreso. Não imaginava que passaria assim de primeira. Mas, apesar de não ter estudado, eu sempre li muito. Leio muito jornal, e também gosto de escrever. Escrevo sempre. Tive a sorte de que caíram muitas questões sobre atualidades e, por ler sempre o jornal, eu tive facilidade”, explica.
De acordo com a psicóloga da casa de passagem onde Valdemir foi acolhido, Aline Ferreira, ele precisa se preparar para a vida de estudante.
“Ele está super ansioso e cheio de planos. Estamos buscando doações para que consiga um celular e um computador, para poder estudar e acompanhar as aulas. O Valdemir tem até planos de fazer um perfil nas redes sociais, para falar sobre a questão da dependência química, dessa luta, e de como é tentar vencer isso”, diz Aline.
O desejo do universitário é ser inspiração para que outras pessoas percebam que também podem alcançar sonhos e objetivos.
“Tem muita gente que não tem acesso a cursinhos pré-vestibulares. Mas é importante elas saberem que também podem. A gente só precisa de uma chance. Eu agradeço os colaboradores da casa de passagem. Se eles não tivessem me inscrito para a prova, se eles não tivessem me acolhido, eu não teria conseguido”, afirma Valdemir.
Fonte: G1.
