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    OnlyFans: investigação da BBC mostra como a plataforma lida com conteúdo ilegal
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    Documentos internos, aos quais a BBC News teve acesso, revelam que o OnlyFans — site que oferece conteúdo por assinatura — permite aos moderadores dar várias advertências a contas que postam conteúdo ilegal em sua plataforma antes de decidir fechá-las.

    Descritos como “manual de compliance”, os documentos também mostram que os funcionários são solicitados a serem mais lenientes com as contas bem-sucedidas do serviço britânico de compartilhamento de conteúdo.

    Especialistas em moderação de conteúdo e em proteção infantil dizem que isso mostra que o OnlyFans — que é mais conhecido por hospedar pornografia — tem uma certa “tolerância” com contas que postam conteúdo ilegal.

    O OnlyFans, por sua vez, afirma que vai muito além de “todos os padrões e regulamentos de segurança globais relevantes” e não tolera violações de seus termos de uso.

    O anúncio foi feito depois que a BBC News abordou a empresa para comentar os documentos vazados e preocupações sobre a gestão de contas que publicam conteúdo ilegal.

    O OnlyFans disse que ainda permitiria aos criadores de conteúdo postar fotos e vídeos com nudez se estivessem de acordo com seus termos de uso, que serão atualizados.

    O site tem mais de 120 milhões de assinantes, que pagam mensalidade e gorjetas aos “criadores” de vídeos e fotos, com a possibilidade de enviar mensagens pessoais para eles. O OnlyFans fica com 20% de todos os pagamentos.

    Em maio, a BBC News revelou que o site estava deixando de impedir menores de 18 anos de vender e aparecer em vídeos explícitos, apesar de ser ilegal.

    Na época, o OnlyFans disse que tentativas de usar o site de forma fraudulenta eram “raras”.

    Agora, os documentos vazados mostram que as contas não são encerradas automaticamente se violarem os termos de uso do site.

    Moderadores de conteúdo da plataforma também contaram à BBC News que encontraram anúncios de serviços de prostituição, bestialidade e material que um moderador acredita ser incesto.

    A BBC viu exemplos de alguns desses conteúdos proibidos. Em um vídeo, um homem aparece comendo fezes. Em outro, um homem paga moradores de rua para fazer sexo com ele diante das câmeras.

    O OnlyFans diz agora que removeu os vídeos e que os documentos não são manuais ou “orientação oficial”.

    Em comunicado, a empresa afirma: “Não toleramos qualquer violação de nossos termos de uso e tomamos medidas imediatas para garantir a segurança de nossos usuários.”

    Os moderadores com quem conversamos nos deram uma perspectiva de como o conteúdo do site é verificado.

    Christof (nome fictício) diz que em alguns dias visualiza até 2 mil fotos e vídeos em busca de conteúdo proibido pelo site.

    Ele usa listas de palavras-chave para pesquisar em bios, posts e trocas de mensagens privadas entre criadores de conteúdo e assinantes.

    Ele conta que encontrou conteúdo ilegal e extremista em vídeos — incluindo zoofilia envolvendo cães e o uso de câmeras escondidas, armas, facas e drogas.

    Alguns materiais não são procurados ativamente pelos moderadores com a frequência que ele acredita que deveria, diz Christof, apesar de serem proibidos pelos termos de uso da plataforma.

    Em várias ocasiões, ele afirma que foi informado pelo OnlyFans que havia moderado demais, particularmente em relação a vídeos mostrando sexo em público e conteúdo de “terceiros” — material apresentando pessoas não registradas no OnlyFans.

    O OnlyFans diz que os moderadores recebem instruções específicas, e se eles rotineiramente vão além delas, são “direcionados a se concentrar apenas no tipo de conteúdo designado”.

    Christof afirma ainda que apesar de proibida, a propaganda de prostituição é comum entre pessoas de baixa renda no site.

    Christof, e uma segunda pessoa que também modera conteúdo do site, dizem que alguns criadores de conteúdo oferecem competições para conhecer e fazer sexo com fãs, como uma forma de aumentar o pagamento de gorjetas.

    Um dos documentos a que a BBC teve acesso detalhando as diretrizes de moderação em 2020, afirma que anúncios de sexo são um problema para o site.

    Diz que os “locais mais populares para promoção de acompanhantes” no site são os nomes de usuário dos criadores de conteúdo, biografias, descrições de conteúdo e “menus de gorjetas”, que anunciam vídeos customizados.

    O documento cita que os “exemplos” deste tipo de promoção incluem referências a “PPM (pay per meet)”, “CashMeets”, “Book me”, “IRL Meet”, “scort”, entre outros.

    Apesar disso, a BBC News foi capaz de encontrar mais de 30 contas ativas usando essas palavras-chave em bios, perfis e postagens, em um único dia.

    O perfil de um criador de conteúdo o descrevia como “[e]scort — parceiro sexual”.

    Uma conta diferente perguntava: “Alguém quer me ‘reservar’ para um fim de semana?” Apenas duas das contas que encontramos foram removidas 10 dias depois.

    O OnlyFans diz que respeita seus termos de uso, utiliza formas de moderação humanas e tecnológicas e fecha contas quando há uma violação grave de seus termos.

    Mas os documentos mostram que, embora o conteúdo ilegal em si seja removido, o OnlyFans permite que os moderadores deem aos criadores de conteúdo várias advertências antes de fechar as contas.

    Um deles, de fevereiro deste ano, revela que o OnlyFans recomenda que sejam dadas três advertências às contas quando um conteúdo ilegal é descoberto. E fornece modelos para cada aviso sucessivo — explicando por que o material foi removido e que o não cumprimento dos termos de uso pode resultar no encerramento da conta.

    A BBC obteve várias versões com datas diferentes do mesmo documento de 2021.

    Todas, exceto a mais antiga, afirmam que deve haver pelo menos cinco exemplos de conteúdo “ilegal” em uma conta para que o caso seja “escalado” imediatamente à gerência.

    Versões mais recentes incluem uma declaração aparentemente contraditória exigindo encaminhamento imediato à gerência para alguns exemplos de conteúdo ilegal.

    O documento também fornece aos moderadores instruções específicas para lidar com as contas — dependendo da popularidade de cada uma.

    Diz que contas com um número maior de assinantes podem receber advertências adicionais quando as regras são violadas.

    No entanto, a equipe é instruída a moderar as contas com baixo número de usuários “como faríamos e [restringir] quando for necessário”.

    Com contas de médio alcance, eles são orientados a advertir, “mas restringir apenas após o terceiro aviso”.

    Se um dos criadores de conteúdo do site mais bem-sucedidos — e lucrativos — infringir as regras, o caso será tratado por uma equipe diferente.

    “Existe uma discriminação entre contas”, diz Christof.

    “Isso mostra que o dinheiro é a prioridade.”

    O segundo moderador acrescenta que com violações de qualquer tipo, “você recebe algumas advertências, não recebe apenas uma e então está fora.”

    Um especialista em moderação de conteúdo diz que os documentos mostram claramente que o OnlyFans tem uma “certa tolerância” com material ilegal.

    “Isso sugere que eles conhecem o suficiente o tipo de conteúdo ilegal que seus usuários estão tentando fazer upload para ter padrões para isso”, afirma Sarah Roberts, codiretora do Centro de Investigação Crítica da Internet da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), nos Estados Unidos.

    “Como [o OnlyFans] tem uma certa dose de leniência, isso também sugere que eles não estão dispostos a alienar completamente seus criadores de conteúdo — mesmo pessoas que podem fazer coisas ilegais na pior das hipóteses, inadequadas na melhor das hipóteses — retirando eles imediatamente da plataforma.”

    Apesar de ser descrito como um “manual de compliance” no cabeçalho de cada página de todas as versões do documento de 2021, o OnlyFans afirma que os documentos não são manuais ou “orientações oficiais”.

    O primeiro documento — de 2020 — tem edições atribuídas a Tom Stokely, diretor de operações da empresa.

    Christof conta que frequentemente se depara com conteúdos em que teme que as pessoas possam estar sendo exploradas.

    Ele diz que embora os documentos estabeleçam instruções para lidar com conteúdo proibido, eles não contêm requisitos para os moderadores levantarem questões sobre exploração.

    Vídeos, a que a BBC assistiu, do homem pagando moradores de rua para fazer sexo diante das câmeras levantaram tais preocupações. A conta se gaba de “caçar” sem-teto e fala abertamente sobre “tirar vantagem” deles.

    Uma conta diferente apresenta sinais característicos de tráfico e exploração, de acordo com um advogado que direcionou a BBC News para a mesma.

    Uma mulher, cujo rosto nunca é mostrado, aparece em alguns vídeos com as paredes e o chão totalmente cobertos por tapetes — e há referências repetidas a viagens pela Europa.

    O detetive Joseph Scaramucci, que trabalha no Texas, nos Estados Unidos, diz que atuou recentemente em casos específicos de tráfico de seres humanos em que havia sinais óbvios de mulheres sob o controle de outra pessoa aparecendo em vídeos do OnlyFans.

    Ele diz que alguns homens ficam felizes em pagar para fazer sexo com essas mulheres — e pagam mais ainda para serem filmados e terem o vídeo publicado no OnlyFans.

    Neste mês, 101 membros do Congresso americano assinaram uma carta pedindo que o Departamento de Justiça dos EUA investigue o conteúdo do OnlyFans, principalmente com foco na exploração sexual infantil.

    Em resposta, o OnlyFans disse que tem uma política de tolerância zero em relação a conteúdo de abuso sexual infantil, que denuncia às autoridades relevantes e apoia suas investigações.

    O agente especial Austin Berrier, do departamento de segurança nacional dos EUA, é especialista em investigar exploração infantil online.

    Ele estima encontrar entre 20-30 imagens de abuso infantil por semana, que ele diz terem claramente se originado no OnlyFans.

    Segundo ele, todos os fóruns da internet que visitou como parte de suas investigações nos últimos seis meses mais ou menos, incluíam imagens de abuso infantil proveniente do OnlyFans.

    A maioria são vídeos que foram transmitidos ao vivo no site. E, de acordo com ele, em alguns deles, as crianças recebem orientações.

    “Está por aí, está em todo o lugar e está sendo amplamente negociado.”

    Dezenas de contas que parecem ter sido criadas por usuários menores de idade são fechadas todos os dias, de acordo com Christof, que compartilhou com a BBC News um registro de algumas contas fechadas durante um período de algumas semanas.

    Quase todas as contas de menores de idade são de assinantes, e não de criadores de conteúdo — incluindo, diz ele, crianças de 10 anos.

    Embora não possam postar fotos ou receber pagamentos diretamente pelo site, Christof afirma que alguns usam a plataforma para anunciar serviços de “acompanhantes” ou a venda de fotos explícitas de si mesmos.

    O perfil de um assinante afirmava ter 16 anos e anunciava a venda de fotos de pés “ou outras” partes por £ 4.

    Christof diz que este é um problema particular em contas que não usam o inglês como idioma.

    De acordo com ele, algumas contas em línguas estrangeiras são insuficientemente moderadas, apesar da enorme popularidade do site em todo o mundo.

    A BBC News conseguiu abrir duas contas de assinantes em francês e alemão — apesar de declarar explicitamente que eram jovens adolescentes na biografia e anunciar a venda de fotos.

    As contas permaneceram ativas por uma semana até que a BBC News entrou em contato com o OnlyFans.

    O OnlyFans disse que todo o conteúdo pode ser denunciado por moderadores, e a empresa cumpre a legislação de combate ao tráfico e fornece treinamento anual para os funcionários.

    A companhia afirmou ainda que a conta que apresenta moradores de rua viola seus termos e condições e agora foi encerrada, e que analisa ativamente os feeds transmitidos ao vivo.

    A baronesa Kidron, ativista de direitos das crianças, diz que qualquer leniência em relação a contas que postam material ilegal é “errada”.

    “A resposta está no nome: se for conteúdo ilegal, deve haver tolerância zero”, diz a fundadora da instituição 5Rights Foundation, que luta pelo direito das crianças, e membro do comitê pré-legislativo de avaliação do projeto de lei de segurança online, há muito adiado.

    Segundo ela, as empresas de pagamento devem assumir a responsabilidade pela forma como seus serviços estão sendo usados.

    “As empresas devem retirar seu apoio comercial, a menos que e até que haja um OnlyFans que seja claramente um site adulto”, sugere.

    Na quinta-feira (19/8), o OnlyFans disse ao Financial Times que a empresa estava proibindo a pornografia na plataforma para “atender às solicitações de nossos parceiros bancários e provedores de pagamentos”.

    Muitos provedores de pagamento, incluindo os gigantes do setor Visa e Mastercard, proíbem o uso de seus serviços para tipos específicos de conteúdo. No ano passado, ambos encerraram seu relacionamento com o Pornhub após denúcias de material ilegal.

    Kidron também acredita que padrões mínimos de moderação e um código de conduta estatutário devem ser introduzidos para lidar com a leniência em relação a contas que publicam material ilegal.

    A BBC News soube que o Departamento de Cultura, Mídia e Esporte (DCMS, na sigla em inglês) do Reino Unido foi avisado por uma instituição americana de combate ao tráfico sobre o conteúdo do OnlyFans em 2019 e assistiu a uma apresentação.

    Em comunicado, o DCMS disse que o projeto de lei de segurança online introduziria as leis mais rigorosas do mundo — e que o OnlyFans enfrentaria multas pesadas ou seria bloqueado se falhasse em combater o conteúdo ilegal.

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